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Papel Photo Rag Hahnemuhle (308 gsm - white) Tela ArtCanvas Smooth Hahnemuhle (370 gsm - natural white)
A3 - 29,7 x 42 cm A2 - 42 x 59,4 cm
Preta Branca Madeira Clara Madeira Escura

Monotipia em linóleo da série Dança para Segurar o Céu (2003) 

 

Certa vez uma visão se apresentou como se fosse inédita para o que até então eu conhecia acerca da natureza. Isto se deu pela generosidade de um homem com quem conversava na ocasião, Ailton Krenak. Através de sua vivência infinitamente mais integrada à natureza do que a minha, ele me desocultou o óbvio. Assim, ali com ele, olhando por uma janela de uma pequena casa em São Paulo, eu vi as árvores dançando para segurar o Céu. Eram árvores antigas na praçinha, estavam resguardando o pouco do silêncio margeando o trânsito da avenida apressada. Pareceu de repente que a "cidade" estava longe dalí. Um vento de final de dia soprava leve, arranhando um zum zum de fundo feito música. Às vezes a folharada se esbarrava mais forte e matracava uma alegria qualquer. Nada era aparentemente diferente de tudo o que sempre esteve ali, uma praça, como tantas outras perdidas pela cidade, mas, agora havia mais do que isso, se via o antes de tudo naquele instante mágico. Havia claramente uma correspondência entre o tempo das coisas, um elo que as tornavam agentes de um só propósito. 

 

A realidade espacial pouco importava, estava dissolvida a distância técnica e lógica que distingue o eu e do outro, já não havia sentido em pensar sobre dualidades, bastava uma só verdade para o sentido ser de fato. Percebi que eu também fazia parte da mesma dança, apenas estava inconsciente disso. Daí o desocultamento: o aqui , e tudo o mais, era só aquela dança para segurar o Céu. Não havia porque não ser outra coisa, a visão revelava-se no movimento mudo dos galhos no vento, era isso que cantava a música vinda do sublime milagre da existência. A rua canalizava esse fluxo ventania que o mato da praça amansava, e com isto, o libertava momentaneamente das definições plausíveis, do tumulto da pressa e das finalidades atmosféricas, tudo se integrava, porém, só por um instante, que logo evanescia em seguida, deixando este ciclo sem fim oculto, como oásis entre a realidade urbana e o Cosmo. 

 

Permaneceu em mim a mesma busca, desde então, mas também, algo que sempre foi isso, mas sem nome, outros encontros ocorreram no caso dessa dança com Ailton, e o que ficou na memória desse sonho compartilhado se manifesta nas imagens reorganizadas neste outro Cosmo que é Arte. Nas monotipias, pinturas e esculturas, onde sempre há a chance de deixar-se levar pelo vento e dançar com o Céu que ainda nos ampara.

 

Edição limitada: 35 unidades no período de 6/junho a 13/agosto de 2025.